quinta-feira, 22 de outubro de 2009

“Decifra meu enigma ou lhe devoro!”

De acordo com a mitologia grega, havia um monstro chamado “esfinge”, com cabeça humana e corpo de fera que, ao encontrar alguém pelo caminho, desafiava-o: “Decifra meu enigma ou lhe devoro”. Tomando essa lenda como exemplo, podemos fazer um paralelo com o exercício do Poder na conjuntura atual, isto é, como sendo algo a ser decifrado, entendido, encarado, acompanhado em todas as suas nuances, porque senão ele acaba devorando o cidadão e aviltando a cidadania.
É dentro dessa lógica que se devem entender os diversos mecanismos criados pelas modernas Constituições, em todos os países, para acompanhar o exercício do Poder, dentro de um modelo de democracia representativa, que de certa maneira o reparte com a sociedade. Assim, a Constituição brasileira de 1988 criou os diversos Conselhos Paritários, os Referendos e Plebiscitos, os Projetos de Lei de iniciativa popular, entre outros. De sua parte, a sociedade civil organiza-se espontaneamente em grupos de cidadãos, para acompanhar o Governo Municipal, bem como a instância Estadual e Federal.
Hoje, mais do que antes, entende-se a necessidade desse acompanhamento efetivo do exercício do Poder em todos os níveis. Embora vivendo em um modelo democrático de organização social, somente a formalidade da representatividade através do voto não é suficiente, assim como os mecanismos constitucionais. É necessário que a sociedade organizada fiscalize, acompanhe, interfira, para que de fato a coisa pública seja gerida a partir do interesse de todos, não estando sujeita ao capricho dos governantes. Caso contrário, o Poder pode se fechar em uma espécie de “caixa preta”, que somente se abre quando há algum “desastre político”, como os fatos lamentáveis relacionados aos “atos secretos” e outros que temos presenciado na política nacional.
Nosso encontro com a “esfinge” do Poder não pode se dar isoladamente, pois corremos o risco de ser devorados por ela, como o demonstram políticos cujas candidaturas nasceram no seio das comunidades e movimentos populares; entraram na política com boa vontade e grandes ideais, mas se desvincularam das bases de onde saíram, tendo sido devorados por ela. Nesse sentido, é preciso que nos unamos, acreditemos, ousemos, lutemos, somemos forças, que demos apoio uns aos outros. Além disso, temos que aprender na caminhada a lidar com o comodismo, o medo, a impotência, a desilusão substituindo-os pela ação, a coragem, a ousadia, o compromisso - de mãos dadas, bem apertadas, com o Amor, que é Jesus: o Caminho a Verdade e a Vida (Jo 14,6) - para que o enigma da esfinge seja decifrado. Isso é possível e urgente.

Associação para o Ensino social da Igreja

Nenhum comentário:

Postar um comentário